domingo, 26 de maio de 2013

Análise: The Walking Dead: Survival Instinct

CONSIDERAÇÕES

“Survival Instinct” é o patinho feio da franquia “The Walking Dead”. Enquanto a HQ original permanece envolvente após uma centena de edições, a série de TV angaria um público cativo e o adventure da Telltale coleciona prêmios, este jogo é no máximo, esquecível.

Somente os fãs mais fervorosos serão capazes de encarar a árdua missão de terminar “Survival Instinct” e mesmo assim, não encontrarão satisfação nessa tarefa. O game possui conceitos interessantes, que vira e mexe, são vislumbrados em meio aos gráficos pobres, mecânicas toscas e missões repetitivas.

Assim como um zumbi lembra vagamente o ser humano que um dia foi, “The Walking Dead: Survival Instinct” é a carcaça inacabada do jogo que poderia ter sido.

INTRODUÇÃO

Baseado na popular série de TV “The Walking Dead”, “Survival Instinct” coloca o jogador no controle do caçador Daryl Dixon, durante os dias entre a infestação zumbi e seu encontro com os sobreviventes do grupo de Rick.

Daryl precisa encontrar seu irmão Merle e buscar um lugar seguro. Para isso, atravessa o estado norte-americano da Geórgia, coletando recursos e se aliando – ou não – a outros sobreviventes.

O game alia mecânicas de ação em primeira pessoa com um implacável gerenciamento de recursos: balas, gasolina e rações militares – cada unidade conta e pode fazer a diferença entre a vida e a morte nas garras e dentes dos mortos-vivos.

“Survival Instinct” poderia ter sido um ‘simulador’ de apocalipse zumbi dos mais desafiadores, mas a falta de acabamento e criatividade resultaram em um game muito abaixo da média para os dias de hoje.

PONTOS POSITIVOS

  • Luta pela sobrevivência
  • Como seria sobreviver ao apocalipse zumbi? Fãs de “Madrugada dos Mortos”, “Walking Dead” e tantas outras obras do gênero sempre se perguntam esse tipo de coisa e, secretamente, fazem seus planos, esperando o dia que colocarão sua esperteza, capacidade de adaptação e conhecimentos à prova.

    Os conceitos por trás de “Survival Instinct” apontam na direção desse cenário: você precisa se virar com as poucas armas que encontra e aprende rápido que atirar é uma péssima ideia. Em parte pela péssima pontaria que o jogo oferece, mas também porque os disparos atraem mais e mais zumbis, o que costuma terminar com a morte do jogador.

    É preciso administrar um inventário limitado e alguns itens não são tão eficientes quanto gostaríamos: você não consegue distrair os zumbis por muito tempo jogando garrafas ou sinalizadores, então é preciso ser rápido e furtivo para aproveitar as chances de se esgueirar por trás deles.

    Por fim, há o sistema de aliados, que permite administrar um pequeno grupo de sobreviventes, equipando-os com armas sobressalentes e enviando os sujeitos para coletar combustível, munição ou alimentos.

    São boas ideias, que renderiam um belo jogo de ‘survival horror’, se tivessem sido mais bem implementadas. Infelizmente, não foi o caso.

    Constantemente, você consegue enxergar um bom jogo tentando se esgueirar para fora de “Survival Instinct”, mas ele nunca consegue escapar dos mortos-vivos, quero dizer, de seus vários problemas.

PONTOS NEGATIVOS

  • Visual tosco
  • O primeiro impacto que “Survival Instinct” causa no jogador é o da pobreza visual. A direção de arte tenta seguir o estilo da franquia, com tons amarelados, cenários rurais e pequenas cidades abandonadas, com zumbis gemendo e vagando pela rua. Mas as texturas lavadas e a quantidade mínima de modelos de personagens destrói qualquer tentativa de reproduzir o universo de “The Walking Dead”.
  • Franquia pouco utilizada
  • Este game é baseado na série de TV de “The Walking Dead”. Por isso, utiliza personagens conhecidos dos fãs, os irmãos Dixon. Daryl foi criado para a televisão e é um cara muito bacana, com seu estilo ‘samurai caipira’. Na TV, ele utiliza facas, técnicas de rastreio e sua indefectível besta para acabar com os mortos-vivos. Seu irmão Merle é um personagem mais complicado: arruaceiro, racista, um verdadeiro marginal.

    Em “Survival Instinct”, você vai saber o que rolou com a dupla antes da série começar: eles viajaram pela Geórgia e mataram um monte de zumbis. Daryl encontrará sua besta em uma historinha que não é das melhores e Merle fará umas poucas aparições.

    E basicamente, é isso. Não há muitas referências ou aparições de outros personagens, a relação dos irmãos não é aprofundada. Não espere por grandes revelações. Isso pode até ser uma coisa boa: ao menos “Survival Instinct” não estraga a série “The Walking Dead”.
  • Zumbis estúpidos
  • Ok, não dá para esperar muito da Inteligência Artificial quando se fala de mortos-vivos, mas os zumbis de “Survival Instinct” são as criaturas mais acéfalas já programadas para um videogame: quando eles vêm na sua direção, por exemplo, é comum que eles parem bem na frente do jogador e fiquem esperando para receber os golpes de faca, machete ou martelo.

    Ao avançar em grupos, ou se enfileram para cair um de cada vez sob as pancadas do jogador, ou cercam o pobre Daryl e tentam devorá-lo, novamente, um de cada vez. O resultado é uma sequência de golpes envolvendo pressionar o botão certo no meio da testa do morto-vivo, para finalizar a criatura e repetir o processo até se livrar de todos.

    Quando você está passando furtivamente pelas criaturas, tomará alguns sustos com gemidos bem ao lado de Daryl, como se um zumbi estivesse na sua cola. Às vezes, ele estará mesmo, mas na maior parte dos casos, o gemido é do morto-vivo que está de costas para você, uns 10 metros adiante: a falta de polimento do jogo se estende até os efeitos sonoros.
  • Aliados sem importância
  • Os aliados que Daryl faz pelo caminho possuem a espessura emocional de uma folha de papel. Eles entram para o grupo e após uma conversa inicial, se tornam apenas ferramentas para angariar recursos. Sem o envolvimento emocional que é característico dos personagens de “The Walking Dead” em qualquer outra obra, é fácil descartar um colega de viagem em favor de outro recém-chegado um pouco mais forte ou destemido.

    A mecânica de coleta de recursos é simplória e, junto com o sistema de viagem, é limitado como um joguinho social dos mais simples. Títulos para celular, como “Rebuild” funcionam de forma parecida, mas mais complexa e diversificada.
  • Falta de interação
  • O que mata “Survival Instinct” não é um tiro certeiro na cabeça, mas sim a falta de interação entre o jogador e o ambiente. Você explora casas, estradas, campings, postos de gasolina – muitos desses cenários se repetem bem mais do que seria aceitável – em busca de recursos ao longo da aventura, mas não há quase nada para fazer com eles.

    Os recursos disponíveis são poucos e limitados: isotônicos (Sports Drinks) e rações militares (acredite, não são pacotes de salgadinhos), garrafas vazias, sinalizadores, algumas armas de fogo e outras tantas armas brancas e, é claro, gasolina e munição. Esquilos empalhados e pôsteres colecionáveis completam a lista.

    Diferente de “Dead Island” ou “ZombiU”, em “Survival Instinct” você não procura por itens nos cadáveres. Após derrubar um zumbi, tudo que resta é seguir em frente. Você nem sequer tira o combustível das dezenas de carros que encontra pelo caminho. Ele está separado do cenário, em galões vermelhos aqui e ali.

    Por sinal, a falta de interação é tamanha que esses galões não explodem com tiros – eliminando qualquer chance de preparar armadilhas criativas por parte do jogador.

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